Author Archives: Kaka Souza

Um Espião na Fronteira

O momento é de distanciamento social, e para apoiar sua quarentena, e ainda te ajudar a visitar a Fronteira – mesmo que através da tela – nós da seção de curiosidades do Blog do Iguassu City Tour vamos deixar aqui uma curiosidade da fronteira que também serve como dica de filme para assistir em casa. 

007 Voo Asa Delta2

Sabe aquela sensação de visitar um ponto turístico e se sentir dentro de um filme? Pois é,  muita gente tem essa sensação quando visita as Cataratas do Iguaçu pela primeira vez. E não é por acaso, as Cataratas já serviram de set para diversas produções cinematográficas que você nem imagina, e hoje, nós vamos te contar a história de uma delas…

O ano era 1977, e nos créditos finais do filme “007 – O Espião que me Amava” surgia o anúncio do próximo filme da franquia que seria lançado, no caso, “007 – Somente para Seus Olhos”. Essa era a ideia original, porém, com o sucesso estrondoso de Star Wars lançado naquele mesmo ano, a equipe de 007 se viu obrigada a mudar os planos e partir para um roteiro que abordava mais o tema que estava em alta no momento, a ficção científica.

007 Moonraker

O roteiro escolhido foi “Moonraker”, (007 Contra o Foguete da Morte, no Brasil), cujo o autor, Sir Ian Fleming já havia concebido como filme em 1954, mesmo sem ter concluído o livro de mesmo título, o que facilitou o trabalho de Christopher Wood, roteirista oficial (já que Ian Fleming que fez parte do trabalho não teve seu nome creditado como roteirista). Christopher Wood, aliás, já tinha sido o roteirista do filme anterior “007 –  Espião que me Amava”.

Devido à quantidade absurda (para a época) de efeitos especiais necessários para produzir “007 – Contra o Foguete da Morte”, a estimativa de gastos com a produção ultrapassou todas as previsões possíveis e os diretores executivos do filme se viram obrigados a buscar alternativas. Uma das soluções na época, foi buscar locações fora do eixo França –  Inglaterra para servir como set de filmagem. Eles também fizeram alterações drásticas no roteiro que acabou ficando bem diferente do livro de Ian Fleming. 

Durante o processo de escolha das locações, um dos produtores executivos, Albert R. Broccoli, viaja para o Brasil com a família e acaba conhecendo entre outras localidades o Rio de Janeiro e a região da tríplice fronteira onde se encontra Foz do Iguaçu, o Parque Nacional do Iguaçu e as Cataratas do Iguaçu e mesmo sem um argumento pronto para o filme, decide que algumas gravações seriam feitas no Brasil. Ele, inclusive, aproveitou essa viagem para registrar imagens do carnaval carioca para serem usadas posteriormente na produção. 

007 Concorde arriving

Em 11 de Agosto de 1978, as filmagens têm oficialmente o seu início nos estúdios Epinay, na França. Logo após o Natal de 1978, a equipe viaja de Paris com destino ao Brasil e já visando diminuir os custos, grava a chegada real de Roger Moore (o 007 da época) ao Brasil em um jato comercial supersônico Concorde para utilizar no filme. Durante a passagem pelo Brasil, a equipe foi dividida em duas, ficando uma delas responsável pelas gravações no Rio de Janeiro, onde uma das cenas mais perigosas do filme foi gravada, a luta entre James Bond e Jaws (Dentes de Aço) por cima do bondinho. A segunda equipe viajou por outras locações no Brasil gravando outras cenas.

Aqui na Tríplice Fronteira as locações utilizadas pela equipe foram o Parque Nacional do Iguaçu, pelo lado argentino, as Cataratas do Iguaçu com gravações feitas de ambos os lados, Rio Iguaçu e Rio Paraná.

James Bond nas Cataratas

Na cena gravada nas locações da Tríplice Fronteira, James Bond descobre que Drax está trabalhando numa operação chamada “Arca de Noé”. Dentro de espaçonaves, seu antagonista planeja carregar machos e fêmeas de inquestionável beleza para repovoar o mundo aniquilando em seguida o restante da população da Terra. Para impedi-lo, Bond vai procurá-lo na Selva Amazônica, onde as naves estão escondidas. A primeira etapa da “Amazônia” é filmada no Rio Iguaçu e nas Cataratas do Iguaçu, numa cena em que 007 é perseguido por Dentes de Aço.

007 Voo Asa Delta

Na cena, James Bond escapa da perseguição decolando com uma asa delta de dentro da lancha, segundos antes dela despencar nas Cataratas do Iguaçu. A lancha, aliás, foi mesmo arremessada Cataratas abaixo e, segundo relatos, seus destroços permaneceram ali por um bom tempo. Algo que não seria permitido pelos órgãos de defesa ambiental nos dias atuais.

007 Voo Asa Delta3

A equipe de filmagem, e o próprio Roger Moore, ficaram hospedados no antigo Hotel Sheraton Iguazú (hoje Hotel Gran Meliá) no lado argentino do Parque Nacional do Iguaçu. Não existe relatos, nem mesmo na ficha técnica, de que a equipe de filmagem tenha atravessado a fronteira em direção ao lado brasileiro, exceto durante as filmagens feitas nos rios Iguaçu e Paraná e nas Cataratas. Já Roger Moore, aproveitou a passagem pela região e veio ao lado brasileiro conhecer Foz do Iguaçu. 

007 Ortega

Aqui na cidade, foi recebido por empresários locais, entre eles, o Sr. Laurindo Ortega, proprietário da Ortega Turismo e também do hotel que levava o mesmo nome. Em terras iguaçuenses, Roger Moore fumou charuto e tomou “uns tragos” com a elite da cidade. Como o agente 007 não estava “a serviço de vossa majestade” quando atravessou a fronteira, sua passagem por aqui ficou registrada apenas em algumas fotos e na memória dos moradores que aqui viviam na época.

Custo e Arrecadação

“Moonraker – 007 Contra o Foguete da Morte” teve um custo de produção de 34 milhões de dólares, quase o dobro do filme anterior “007 O Espião que Me Amava” e mais que o custo de produção dos seis primeiros filmes da franquia juntos. O filme arrecadou mais de 210 milhões de dólares em bilheteria ao redor do mundo.

007 Garganta do Diabo

Aproveite o momento para curtir essa produção em casa, junto à sua família. Se cuide, fique bem e assim que puder, não deixe de nos visitar. Temos muitas outras histórias como essa para te contar, à bordo do nosso Red Bus em qualquer uma das rotas oferecidas pelo Iguassu City Tour.

🚍 Ainda não sabe a data, mas o destino é certo? Então não deixe de aproveitar e adquira os passeios do Red Bus do Iguassu City Tour e ganhe 10% de desconto em qualquer uma das rotas Clicando Aqui.

Obs.: Imagens e fotos utilizadas neste texto foram retiradas de sites públicos na internet. Todos os créditos aos autores das mesmas. Se você é ou conhece o autor das imagens, informe-nos para que possamos creditá-la.

 

Costa e Silva e “A Grande Estrada”

Foto: Antiga interseção entre Rodovia Br 277 e Av. Costa e Silva.

Foto: Antiga interseção entre Rodovia Br 277 e Av. Costa e Silva.

Considerada a principal via de entrada para Foz do Iguaçu, a Av. Costa e Silva liga a rodovia federal BR 277 ao centro da cidade. Nas margens dela se encontram grandes empresas e hotéis da cidade além do JL Cataratas Shopping, o primeiro da cidade. Muitos dos que visitam a cidade, e até mesmo, alguns moradores, desconhecem o motivo pelo qual a avenida ganhou esse nome.

O nome é uma homenagem ao 27º Presidente do Brasil, segundo do período da Ditadura Militar, Artur da Costa e Silva.

Costa e Silva era marechal do Exército Brasileiro quando assumiu a presidência da república e já havia ocupado o Ministério da Guerra no governo anterior, do marechal Castelo Branco.

Costa e Silva e Stroessner, durante solenidade de inauguração.

Costa e Silva e Stroessner, durante solenidade de inauguração.

Embora seu governo (15/03/1967 a 31/08/1969) tenha sido marcado negativamente com a promulgação do “AI-5”, antes do término, em 27/03/1969, Costa e Silva visitou Foz do Iguaçu para, juntamente com o Presidente do Paraguai, Alfredo Stroessner Matiauda, inaugurar uma obra de extrema importância para Foz do Iguaçu, para o Paraná e também para o Paraguai, a rodovia BR 277, que ligaria o Paraguai ao Porto de Paranaguá, no litoral paranaênse e que também ficou conhecida na época como “a grande estrada”.

Imagem: Reprodução de matéria do Jornal Folha de S.Paulo.

Imagem: Reprodução de matéria do Jornal Folha de S.Paulo.

Durante o encontro, os dois Presidentes assinaram também uma declaração onde indicavam a intenção de outras ações e esforços conjuntos para obras na fronteira.

Costa e Silva foi vítima de um derrame cerebral em agosto de 1969, o que o afastou do cargo de presidente. Em dezembro do mesmo ano, veio a falecer. 

Artur Costa e Silva recebeu homenagens tendo seu nome colocado em vias, praças e até escolas em diversas partes do país, incluindo sua cidade natal, Taquari, onde seu busto foi instalado em uma praça. 

Após a divulgação do relatório final da Comissão Nacional da Verdade (CNV), em 2014, que incluiu o nome de Costa e Silva entre os 377 responsáveis diretos ou indiretos por práticas de tortura e assassinatos durante a Ditadura Militar,  algumas dessas homenagens foram revistas.

Retirada Busto Costa e Silva

Na cidade de Taquari, seu busto foi removido com uso de uma retroescavadeira e reinstalado no museu que também leva seu nome. Na cidade de São Paulo, o famoso “Minhocão” que oficialmente era chamado de “Elevado Costa e Silva” teve seu nome trocado para “Elevado Presidente João Goulart”.

Mais histórias sobre a BR 277, visitantes ilustres e outras obras na fronteira, você descobre acompanhando nossa página ou à bordo do Red Bus, em qualquer uma das rotas oferecidas pela Iguassu City Tour. Não deixe de acompanhar nossa página, até breve.

 

🚍 Reserve agora mesmo seu passeio com o Red Bus do Iguassu City Tour e ganhe 10% de desconto em qualquer uma das rotas Clicando Aqui.

Obs.: Imagens e fotos utilizadas neste texto foram retiradas de sites públicos na internet. Todos os créditos aos autores das mesmas. Se você é ou conhece o autor das imagens, informe-nos para que possamos creditá-la.

As Vilas de Itaipu

Itaipu construção decada 1970

Apenas tente imaginar que, do dia para a noite, o número de integrantes que habitam sua residência atualmente se multiplicasse por três. Parece possível? Haveria camas e alimentos para todos? Pois foi mais ou menos isso que os pouco mais de 30 mil habitantes de Foz do Iguaçu vivenciaram no início da década de 1970, quando foi anunciada a construção da maior hidrelétrica do mundo na cidade. Foi preciso adaptar muitas coisas na cidade para receber bem os milhares de trabalhadores que vieram de toda parte do Brasil para trabalhar na obra.

Para abrigar todos os trabalhadores, em 1975 a Usina de Itaipu deu início à construção de cerca de 9.000 mil moradias, destas, cerca de 4.750 mil moradias foram criadas do lado brasileiro, divididas em três conjuntos habitacionais que foram chamados de “Vila A”, “Vila B” e “Vila C”.

Vila C de Itaipu. Foto: Arquivos da Internet

Vila C de Itaipu. Foto: Arquivos da Internet

A primeira foi a Vila C, depois a Vila A que foi dividida em 3 partes: Vila A 1,  que começava na atual Av. Garibaldi e ia até a atual Av. Eng. Hildemar Leite França; Vila A 2, que começava na atual Av. Eng. Hildemar Leite França e seguia até a Av. Paraná; Vila A 3, que seguia da Av.Paraná até a Av.Tancredo Neves e, por fim,  a Vila B.

Imagem aérea da Vila A em 1977. Foto: Arquivos da Internet.

Imagem aérea da Vila A em 1977. Foto: Arquivos da Internet.

Enquanto a Vila C foi construída nos moldes de um alojamento e era destinada aos trabalhadores da construção civil, a Vila A foi edificada com casas no estilo americano – muitas, inclusive, fabricadas em madeira – para abrigar os  funcionários com cargos técnicos e administrativos e a Vila B, com casas de alto padrão, para o alto escalão.

Barracões com teto de zinco utilizados na costrução das cadas da Vila C. Foto: Arquivos da Internet.

Barracões com teto de zinco utilizados na costrução das cadas da Vila C. Foto: Arquivos da Internet.

Na Vila C, vizinha da hidrelétrica, foram construídas 2.652 moradias compartilhadas, feitas em barracões. Cada uma tinha quatro casas simples, com dois quartos, cozinha, copa e banheiro. Na cobertura, o material usado foi zinco. Como foi projetado para ser provisório, o bairro não contava, sequer, com asfalto em todas as ruas.

Floresta Clube na Vila A. Foto: Arquivos da Internet.

Floresta Clube na Vila A. Foto: Arquivos da Internet.

Pela distribuição e localização das vilas, junto também com estética das casas e da infra-estrutura geradas a elas, a Vila C tinha um caráter mais rudimentar, construída com materiais de vida útil reduzida, além disso, estava muito próxima da Usina. Enquanto nas outras vilas A e B, possuíam clubes esportivos e de lazer, a Vila C tinha apenas um centro comunitário. Havia duas escolas no total, sendo que uma ficava na Vila C para os filhos dos peões, e a outra na Vila A, para os filhos dos outros funcionários que residiam nos dois bairros. Na Vila C, só as ruas principais que tinham asfalto, as demais eram de cascalho, já nas Vilas A e B eram todas ruas asfaltadas.

Posto de segurança da Vila C de Itaipu. Foto: Arquivos da Internet.

Posto de segurança da Vila C de Itaipu. Foto: Arquivos da Internet.

A Vila C possuia um rígido sistema de segurança que, dia e noite, zelava pela ordem nesses espaços de uso comum. Havia também a ronda noturna que patrulhava freqüentemente as ruas, controlando até mesmo o horário de permanência das pessoas na rua, ou em caso de festa ou situações do gênero, fiscalizando o horário do recolhimento das famílias. A vila era isolada com cercas de arame farpado e muros, e na entrada da vila havia uma cancela com segurança vinte quatro horas, para controle de entrada e saída, que permaneceu até por volta de 1986. A rigidez na administração do bairro chegou a gerar reclamação entre seus moradores, e até mesmo matérias nos jornais na época, como a da imagem abaixo, intitulada “Repressão Sexual na Vila C” que foi veiculada no Jornal Nosso Tempo.

Imagem: Repordução de matéria originalmente publicada no Jornal Nosso Tempo.

Imagem: Repordução de matéria originalmente publicada no Jornal Nosso Tempo.

A crise da construção civil no início da década de 1980 – um período difícil na economia brasileira, que ficou conhecido como “a década perdida” – causou o fechamento de diversas frentes de trabalho pelo Brasil, inclusive inibindo investimentos no setor elétrico e a construção de novas barragens e fazendo com que os barrageiros, como eram conhecidos os trabalhadores da construção civil especializados na construção de barragens, optassem pela permanência em Foz do Iguaçu obrigando a Itaipu a rever sua decisão de demolir a Vila C ao término da construção da barragem, conforme previa o projeto inicial. 

Crise Econômica decada 80

 

Parte da massa dos desempregados que ficou em Foz, após o término da construção da barragem, foi trabalhar no comércio ou e em pequenos serviços. Mas, como a economia local não tinha capacidade para absorver tamanha oferta de mão de obra – no pico da construção a hidrelétrica chegou a empregar 40 mil pessoas – boa parte dos ex-barrageiros foi trabalhar no comércio informal do Paraguai, que estava em ascensão.

A Vila C foi a primeira das três a ser incorporada a cidade, pois com o término das obras da barragem não havia mais necessidade de Itaipu cuidar da manutenção do bairro e de suas residências, pois não havia mais funcionários ligados a binacional habitando aquele conjunto. A ideia inicial de demolição das casas foi descartada após uma pressão por parte de políticos e jornalistas de Foz que alegavam falta de moradias na cidade. Assim teve início o processo de transferência dos conjuntos habitacionais de Itaipu para a cidade de Foz do Iguaçu. Como parte do processo de incorporação das vilas ao restante do município, uma das primeiras mudanças nas vilas foi a dos nomes de ruas e avenidas, que até aquele momento, possuíam apenas letras e números como “Avenida 1” e “Rua C”. A numeração das casas também precisou ser alterada, já que não seguiam o modelo padrão do município. O modelo de numeração usado até aquele momento, havia sido adotado pela Itaipu no ano de 1976, quando foi iniciada a obra de construção das vilas de Itaipu.

Colégio Anglo Americano. Foto: Arquivos de Elias Attuy.

Colégio Anglo Americano. Foto: Arquivos de Elias Attuy.

No ano de 1990 parte das instalações do Colégio Anglo Americano, construído para ser usado por filhos de funcionários da Usina, que iniciou suas atividades com 1360 (mil trezentos e sessenta alunos), chegando a 14010 (catorze mil e dez) no ano de 1982, foram doadas a prefeitura de Foz do Iguaçu para a criação da escola municipal Professora Josinete Holler (em parte da unidade da Vila A) e escola municipal Arnaldo Isidoro de Lima (na unidade da Vila C). A mega estrutura do colégio e suas duas unidades já não era necessária, uma vez que, com o fim da obra, muitos funcionários ligados à Usina já haviam deixado as casas. Em abril de 2009, um incêndio destruiu completamente dois pavilhões, que ainda mantinham a estrutura original do Anglo Americano, na escola municipal Arnaldo Isidoro de Lima. 

Em dezembro de 1990, o Conselho da Diretoria Geral de Itaipu, anunciou que daria início ao processo de venda das casas, dando prioridade aos funcionários da Usina e das empreiteiras que ainda moravam na vila.

Seguindo este mesmo projeto de desvinculação das casas da vila da administração de Itaipu, em 1994 o hospital de Itaipu, até então totalmente voltado para atendimento dos funcionários da usina de Itaipu ou ligados a obra, como os funcionários de Furnas Centrais Elétricas, responsável pela transmissão da energia gerada por Itaipu, que também habitavam a Vila A, passa a atender também pelo SUS. E como agora o hospital passava a atender qualquer pessoa, o nome foi então alterado.

Vila A e Hospital da Itaipu

A caixa-d’água do hospital em questão, possuía um formato que  representava a logomarca da Itaipu em uma escala tão grande que, podia ser vista do centro de Foz do Iguaçu ainda no início da década de 1990 quando as árvores da Vila A não eram tão grandes. O nome “Hospital de Itaipu” poderia causar desconforto e fazer parecer, que os que não habitavam esse bairro ou as vilas de Itaipu e não possuíam ligação com a hidrelétrica, não tinham direito a ele. Assim juntamente com a abertura para o SUS o até então hospital de Itaipu se torna hospital Ministro Costa Cavalcanti. Mesmo trocando o nome do hospital, a nova definição ainda faz uma referência à Itaipu ao homenagear o primeiro diretor-geral da usina, no entanto, com força menor de vinculação à binacional que a antiga nomenclatura. 

Mesmo com o início da venda das casas, a Usina permaneceu tendo o controle administrativo dos bairros Vila A e C e zelando por sua infraestrutura até 1997 quando finalmente, e oficialmente, entregou a administração à Prefeitura Municipal de Foz do Iguaçu.

Imagem: Reprodução de matéria publicada no jornal A Gazeta do Iguaçu com texto de Thays Petters.

Imagem: Reprodução de matéria publicada no jornal A Gazeta do Iguaçu com texto de Thays Petters.

Em 2011, a Fundação Parque Tecnológico Itaipu (PTI) e o Instituto Polo Internacional Iguassu lançaram o projeto “Barrageiros” que recrutou antigos trabalhadores da Usina, que tinham interesse em compartilhar um pouco das histórias do canteiro de obras, para trabalharem dentro do Complexo Turístico Itaipu (CTI). 

 

Lazo Cardozo, ex-barrageiro e contador de histórias. Foto: Divulgação PTI.

Lazo Cardozo, ex-barrageiro e contador de histórias. Foto: Divulgação PTI.

Um dos recrutados foi Lazo Cardoso (foto) que desde 2016 recepciona os turistas que visitam a Itaipu Binacional contando histórias e curiosidades sobre os bastidores do período de construção da maior usina hidrelétrica em produção de energia do mundo. Ele fala de tudo isso com propriedade, uma vez que foi um dos 100 mil trabalhadores que ajudaram a tirar do papel o projeto da usina.

Durante as visitas, ele conta com um grande repertório de “causos” do tempo da construção da barragem. Entre as histórias, está, por exemplo, a criatividade dos trabalhadores na tentativa de burlar a segurança e levar bebida alcoólica aos alojamentos na Vila C.

Tinha um sujeito que gostava tanto de uma ‘marvada’, que resolveu inventar uma artimanha. Sempre voltava da folga carregando uma mangueira. Certa vez, o guarda perguntou de onde era e ele disse que a usava para regar o jardim da casa da namorada. Na verdade, ele enchia a mangueira de cachaça. Quando descobriram, o cara tomou uma advertência e foi apelidado de “mangueirinha” pelos colegas. 

Conheça outras histórias, “causos” e curiosidades sobre a Itaipu Binacional à bordo do Red Bus do Iguassu City Tour. A Iguassu City Tour opera saídas diárias, na parte da manhã e tarde, da rota City Tour Circuito Itaipu. A rota passa pelas vilas de Itaipu que estão no trajeto que leva à Usina, além de entrar com o próprio ônibus que faz o circuito panorâmico dentro de Itaipu e o Ecomuseu de Itaipu. O passeio é guiado em português, espanhol e inglês e os ingressos, tanto para a entrada na Usina quanto para o Ecomuseu, já estão inclusos no valor.

Reserve agora seu CITY TOUR CIRCUÍTO ITAIPU COM 10% DE DESCONTO diretamente no site da Iguassu City Tour. Aproveite e conheça também outras rotas oferecidas.

 * Agradecimento especial á Fundação Parque Tecnológico Itaipu (PTI) e aos membros do grupo “Foz do Iguaçu & Cataratas – Memória e Fotos Atuais” e “Memória da Vila C” por manterem vasto arquivo que serviu de fonte de pesquisa para a elaboração deste texto.

Que tal “comer” uma sopa no Paraguai?

Sopa Paraguaia 1

Fazer turismo por Ciudad Del Este e outras cidades paraguaias próximas à fronteira pode ser uma atividade muito saborosa. Para além da “muvuca” das compras em Ciudad Del Este, existe uma cidade limpa, organizada, bonita, repleta de grandes histórias e habitada por pessoas extremamente hospitaleiras.

A gastronomia paraguaia, que reúne cultura indígena com influência européia, merece a atenção de quem visita o país. Mas vamos te dar uma dica, caso queira “turistar” pelos restaurantes locais:

Não estranhe se alguém lhe oferecer como prato de entrada ou acompanhamento uma sopa para “comer”…

Para quem decide comer a sopa paraguaia pela primeira vez, o nome pode causar um pouco de estranhamento justamente por causa da consistência. Mas logo o estranhamento abre lugar para a apreciação, e conquista quem quer que a prove.

A sopa paraguaia não é líquida, mas sim, sólida. Trata-se basicamente de uma torta salgada à base de milho, queijo, ovos e cebola, muito consumida no Paraguai. 

Por conta da fronteira seca e do forte intercâmbio cultural entre Mato Grosso do Sul, Paraná e Paraguai, não foi difícil que o alimento ficasse popular também nesses estados brasileiros, por isso, ela também é encontrada em restaurantes e até supermercados de Foz do Iguaçu.

Carlos_Antonio_López Os historiadores afirmam que tudo começou com Don Carlos Antonio Lopez, que foi presidente constitucional do Paraguai entre o período de 1841 a 1862 – e pai de Francisco Solano Lopez, mas essa história, a gente conta outro dia – e que gostava muito da chamada sopa branca ou “Tykueti”. Reza a lenda que, em um determinado dia, o cozinheiro acabou adicionando à sopa branca mais farinha de milho do que o usual, e a deixou cozinhando dentro do forno, assim o “Tykueti” acabou passando de líquido a sólido. Quando experimentou o resultado do erro na receita batizou a nova iguaria de Sopa Paraguaia.

Outra versão diz que, originalmente, era uma sopa comum que os soldados paraguaios levavam para o campo de batalha durante a guerra do Paraguai entre 1864 e 1870. Mas como era difícil transportar o líquido nos campos, outros ingredientes foram sendo incorporados, a deixando ainda mais sólida e tomando a consistência atual.

Segundo as receitas tradicionais, é muito importante que a sopa paraguaia não leve jamais fubá ou fubá saboró, mas o recheio está liberado. É comum encontrarmos cereais, verduras, carne seca ou o que mais a imaginação mandar. É muito comido como acompanhamento do pão, substituindo uma refeição ou como primeiro prato quente.

Chipa Guazú2

Um outro prato típico do Paraguai, fácilmente encontrado em qualquer restaurante, é a Chipá Guazú, originada de uma variação na receita da Sopa Paraguaia, feita com milho verde, ao contrário da sopa que leva milho seco, e com grande quantidade de queijo entre seus ingredientes. 

No City Tour Ciudad Del Este, uma das rotas oferecidas pela Iguassu City Tour, você conhece outra deliciosa iguaria da culinária paraguaia, a Chipa, um biscoito feito de polvilho cuja origem remete às missões jesuíticas e que vai muito bem acompanhado de café ou “cocido”.

Chipa2

Mais histórias sobre iguarias culinárias da Tríplice Fronteira e suas origens você descobre acompanhando nossa página ou à bordo do Red Bus, em qualquer uma das rotas oferecidas pela Iguassu City Tour. Não deixe de acompanhar nossa página, até breve 😉

 

 

O Caminho do Peabirú e a busca pelo “El Dorado”

Caminho Peabiru Quatro Barras

Antes mesmo da chegada dos europeus ao continente, a região da tríplice fronteira já atraía muitos viajantes. Era por aqui que passava uma das trilhas mais utilizadas pelos ameríndios (nome dado aos habitantes da América antes da chegada dos europeus). A trilha, com mais de 3 mil quilômetros de extensão em seu principal ramal, ligava o oceano pacífico ao atlântico e era chamada de “Caminho do Peabirú”. Com a chegada dos europeus, esse caminho alimentou lendas como a do “El Dorado” que por sua vez, foram responsáveis por estimular a criação de diversas expedições que visavam  a busca por ouro e prata dos Incas, promovida por portugueses e espanhóis. Estas expedições deram origem a nomes de rios, países e foram responsáveis pela descoberta de uma das grandes maravilhas da natureza.

 

Os peabiru (na língua tupi, “pe” – caminho; “abiru” – gramado amassado) são antigos caminhos utilizados pelos ameríndios (indígenas sul-americanos) desde muito antes do descobrimento pelos europeus, que ligavam o litoral brasileiro, mais precisamente na região entre São Paulo e Santa Catarina, ao interior do continente e ao oceano pacífico, passando antes pela região hoje conhecida como Cusco, no Perú.

 

Uma das primeiras obras literárias onde a palavra “Caminho do Peabiru” foi empregada é a do jesuíta Pedro Lozano. No início do século XVIII ele escreveu a obra “História da Conquista do Paraguai, Rio da Prata e Tucumán”.Outras fontes, no entanto, dizem que o termo já era utilizado na Capitania de São Vicente, atual estado de São Paulo, logo após o descobrimento do Brasil pelos portugueses, em 1500.

Gravura Aleixo Garcia

Em 1524, esse caminho foi percorrido pelo náufrago português Aleixo Garcia, sobrevivente da fracassada expedição comandada pelo espanhol Juan de Solis que foi atacada por indígenas no Rio da Prata (região hoje conhecida como Uruguai). Juan de Solis, aliás, foi morto e devorado pelos indígenas diante de sua tripulação. Tal acontecimento, fez com que a tripulação das três embarcações decidisse pelo retorno ao litoral brasileiro. Uma dessas embarcações, porém, naufragou próximo à ilha de Santa Catarina e Aleixo foi um dos sobreviventes desse naufrágio. 

Após viver entre os índios Carijós e escutar muitos relatos sobre uma “cidade do ouro” Aleixo comandou uma expedição integrada por algumas centenas de índios, partindo da Ilha de Santa Catarina (“Meiembipe”), percorrendo o Caminho do Peabiru com a intenção de saquear ouro, prata e estanho. Aleixo Garcia alcançou o território do Peru, no Império Inca, nove anos antes da invasão espanhola dos Andes em 1533 e é tido como o primeiro europeu a ter contato com os Incas.

Aleixo Garcia não teve oportunidade de saborear sua conquista por muito tempo, já que, no retorno, quando sua expedição passava pela região hoje conhecida como Paraguai, foram atacados pelos ferozes índios Paiaguás. No confronto, Aleixo Garcia e muitos outros de sua expedição foram mortos. Entre os que conseguiram escapar, parte da expedição naufragou no Rio da Prata, na região conhecida hoje como Argentina, deixando nas águas profundas do rio, boa parte do fruto do saque de ouro, prata e estanho. Reza a lenda que, parte da prata perdida no rio pela expedição de Aleixo Garcia, começou a ser encontrada anos mais tarde, e essa prata deu origem ao nome “Argentina” já que o nome do país significa prata e vem da palavra “argentum”, em latim, e “argénteo”, em em espanhol.

Mapa da Capitania de São Vicente. Fonte: Arquivos da Internet

Mapa da Capitania de São Vicente. Fonte: Arquivos da Internet

Sem saber da empreitada de Aleixo Garcia ou de seu fim, Martim Afonso de Sousa, fundador da Vila de São Vicente, que segundo a lenda, só se fixou naquele trecho do litoral porque, de antemão, dispunha de informações de que, dali, se teria acesso ao caminho que o levaria às minas do Potosí, uma das possíveis localizações da lendária “El Dorado”, hoje localizada dentro do território boliviano, e aos tesouros dos incas. Determinou a criação de uma expedição que partiu de Cananéia (no litoral da Capitania de São Vicente), em 1 de setembro de 1531, sob o comando de Pero Lobo, tendo Francisco das Chaves como guia. Seguindo por um antigo caminho indígena que entroncava com o Caminho do Peabiru, esta expedição desapareceu, chacinada pelos indígenas guaranis nas proximidades de Foz do Iguaçu quando tentava atravessar o Rio Paraná.

Álvar Núñez Cabeza Fonte: Arquivos da Internet

Álvar Núñez Cabeza Fonte: Arquivos da Internet

Quase 20 anos depois do português Aleixo Garcia, o espanhol Álvar Núñez Cabeza de Vaca começou a caminhada pelo Caminho do Peabiru, partindo da foz do rio Itapocu, no litoral norte de Santa Catarina, no dia 2 de novembro de 1541, vindo a descobrir, no final de janeiro de 1542, as Cataratas do Iguaçu. Álvar Núñez foi o primeiro dos exploradores a documentar a descoberta das quedas, por isso é tido como descobridor, mas é bem provável que alguns dos que antecederam o espanhol tenham passado pelo mesmo local, mas, cegos pela busca do ouro e da prata, simplesmente ignoraram as quedas.

Capa do livor Ulrich_Schmidl

Em 1553, o aventureiro alemão Ulrich Schmidl, autor da obra “História verdadeira de uma viagem curiosa feita por U. Schmidl”, publicada em Frankfurt em 1567, percorreu também o Caminho do Peabiru, porém, para evitar o confronto com os índios, saiu da trilha original do caminho por diversas vezes durante a viagem. 

Rugendas_-_Aldea_des_Tapuyos

Os jesuítas, após escutarem diversos índios atribuírem a criação da caminho ao ancestral “Pay Sumé”, batizaram esse caminho de “Caminho de São Tomé”, tendo-o utilizado nas suas atividades de evangelização e aldeamento de indígenas, na região do Rio Paraná, ainda em meados do século XVI. 

Na verdade a pronúncia “Sumé” é errônea. Portugueses e espanhóis foram incapazes de pronunciar o nome dado pelos tupis e guaranis ao dito herói mítico dos índios. A pronúncia indígena, anasalada, até para nós, brasileiros, é difícil na atualidade. A pronúncia mais provável para o nome, seria  algo como Tzomé ou Tzumé.

Bandeirantes Paulistas

No século XVII, bandeirantes paulistas, como Antônio Raposo Tavares, trilharam essa via para atacar as missões jesuíticas.

O caminho tinha diversas ramificações utilizadas pelos guaranis, que, através delas, se deslocavam pelas diversas partes do seu território, mantendo, em contato, as tribos confederadas através de uma espécie de correio rudimentar chamado “parejhara” que ligava o norte e o sul do Brasil, da Lagoa dos Patos até a Amazônia. Segundo a lenda guaraní, o caminho não foi aberto por eles, que atribuem a sua construção ao ancestral civilizador Sumé, que teria criado a rota no sentido leste-oeste. 

Caminho do Peabirú

Através do caminho, era realizada uma intensa troca comercial (na base do escambo) entre os índios do litoral e do sertão e os incas: os índios do litoral forneciam sal e conchas ornamentais, os índios do sertão forneciam feijão, milho e penas de aves grandes como ema e tucano para enfeite, e os incas forneciam objetos de cobre, bronze, prata e ouro. 

Uma das maiores provas de que esse comércio existiu, foi a descoberta de um machado andino pré-colombiano feito de cobre, no século XIX, na região de Cananéia, no litoral de São Paulo. O Objeto foi analisado na Áustria, e lá comprovaram a origem andina, mas existe também a possibilidade que ele faça parte do espólio do tesouro de Aleixo Garcia, desaparecido desde sua morte, no Paraguai.

Uma outra tese sobre a origem do nome Peabiru, afirma que os incas chamavam seu território de Biru. Desse modo, a denominação do caminho poderia resultar do híbrido pe-biru, que equivaleria a “caminho para o Biru”.

 

Nos dias atuais, restam ainda, em pontos isolados de mata e em algumas localidades, reminiscências desse caminho, que se caracterizava por apresentar cerca de 1,40 metro de largura e leito com rebaixamento médio de cerca de 40 centímetros em relação ao nível do solo do entorno, recoberto por uma gramínea denominada puxa-tripa. Nos seus trechos mais difíceis, o caminho chegava a ser pavimentado com pedras. Em alguns trechos, era sinalizado com inscrições rupestres, mapas e símbolos astronômicos de origem indígena.

Na década de 1970, uma equipe coordenada pelo professor Igor Chmyz, da Universidade Federal do Paraná, identificou cerca de trinta quilômetros remanescentes da trilha na área rural de Campina da Lagoa, no estado do Paraná. Ao longo desse trecho, foram, ainda, identificados sítios arqueológicos com vestígios das habitações utilizadas provavelmente quando os indígenas estavam em trânsito. 

 

Mais histórias sobre os primeiros habitantes e os caminhos que passam pela fronteira você descobre acompanhando nossa página ou à bordo do Red Bus, em qualquer uma das rotas oferecidas pela Iguassu City Tour. Não deixe de acompanhar nossa página, até breve 😉

 

🚍 Mais informações e reservas: https://iguassucitytour.com.br/

Obs.: Imagens e fotos utilizadas neste texto foram retiradas de sites públicos na internet. Todos os créditos aos autores das mesmas. Se você é ou conhece o autor das imagens, informe-nos para que possamos creditá-la.